Ontem, dia 12 de novembro a Apple oficialmente lançou a nova versão do seu sistema operacional, o MacOS BigSur, que representa uma nova geração dos dispositivos da Apple.
Para usuários de dispositivos Garmin, as novas versões de sistema tem gerado um certo desconforto.
Em 2018, o MacOS Mojave (10.13) introduziu uma limitação parcial a aplicativos de 32 bits, que ainda funcionavam mas com possíveis restrições. Nessa época o Basecamp ainda era um aplicativo de 32 bits e a Garmin se apressou em lançar a versão 4.7.0 de 64 bits.
Aos olhos do utilizador nada muda se uma aplicação é de 32 ou 64 bits. Os tais bits representam arquiteturas diferentes na construção dos aplicativos e a forma como são tratados pelo sistema operacional e computador.
Uma boa analogia é a comparação de um carro de mesmo modelo, sendo um motor 8V e outro 16V. O utilizador, nesse caso o motorista, pode até perceber diferença de performance na utilização mas visualmente continua utilizando o mesmo carro.
Porém, o Basecamp de ’16 válvulas’ teve problemas no seu projeto. O aplicativo simplesmente fechava a janela ao tentar fazer zoom em qualquer mapa, de forma bruta, sem salvar os dados. Isso era algo muito irritante, quase que impraticável trabalhar no programa. O problema persistiu por alguns meses, até os engenheiros resolverem trocar a repimboca da parafuseta para o motor funcionar como deveria.
Lembro-me que nessa época eu sugeria aos meus alunos um rollback do basecamp, voltando a instalar a versão anterior do aplicativo, a de 32 bits. Um processo muitas vezes doloroso, principalmente para restauração dos dados.
No ano seguinte, em 2019, a Apple lança a versão 10.15 do seu sistema operacional, o Catalina. Essa versão baniu de vez os aplicativos de 32 bits e só permitia a execução de aplicações 64 bits.
Nessa fase o Basecamp de 64 bits já estava estável e não sofreu com a mudança. Porém uma série de aplicativos úteis para personalização de mapas deixaram de funcionar, pois só existiam em versão de 32 bits. Muitos destes aplicativos foram desenvolvidos por programadores autônomos e distribuídos livremente. Por falta de tempo, dinheiro ou interesse dos desenvolvedores, boa parte destes aplicativos não existem ainda em versão de 64 bits e talvez nunca venham a existir.
Aplicativos emuladores como o Wine, que permite executar programas feitos para Windows dentro do Mac, também deixaram de funcionar. Estes emuladores eram ótimos para executarem programas que só existiam em versão Windows e também para casos como o mapa do Proyecto Mapear, que por pura porquice do desenvolvedor, em vez de entregar o arquivo do GPS compactado em um formato universal (.zip) o arquivo é entregue em padrão de aplicativo Windows (.exe) e não é possível abrir dentro do Mac sem a ajuda de aplicativos como o Wine. Já perdi a conta de quantos emails mandei ao projeto pedindo para corrigir isso e nunca me responderam.
Ou seja, mais uma perda por conta da evolução tecnológica.
Mas enfim, e agora no MacOS Big Sur, quais os desafios da nova versão?
A versão 11 do MacOS não é só mais uma atualização de sistema da Apple. Trata-se de uma mudança muito mais profunda na forma como os Macs trabalham, pois a Apple também mudou o ‘cérebro’ do seu equipamento, trazendo também uma nova tecnologia nos processadores.
Desde 2006 a empresa da maçã utilizava em seus computadores processadores fabricados pela gigante Intel, similares aos processadores de notebooks e PCs convencionais de diversos fabricantes, que utilizam sistemas como o Windows ou Linux.
Agora em 2020 a apple resolveu deixar de utilizar processadores da Intel e passará a utilizar processadores M1, fabricados pela própria Apple.
Os processadores M1 são de uma arquitetura de construção totalmente diferente dos processadores da Intel. Isso quer dizer que um aplicativo que foi escrito para funcionar em um computador Apple com processador Intel é diferente do que um aplicativo escrito para funcionar com processadores M1. Imagine a Apple como uma montadora de carros que de 2006 até hoje só fabricava carros movidos a gasolina e agora resolveu que só vai produzir carros movidos a etanol.
E é ai que entra o novo sistema, o Big Sur. Esse o primeiro sistema operacional da Apple que é ‘TotalFlex’ e funciona tanto nos Macs com processadores Intel como na nova geração com processadores M1.
Então como você pode imaginar, o salto do Catalina para o Big Sur é grande, pois o sistema foi totalmente reescrito para o novo cenário da Apple.
Tá, mais e o Basecamp, vai funcionar no Big Sur?
A princípio sim, mas temos que dividir esse assunto por partes.
Não, assim como aconteceu na entrada do Mojave e depois do Catalina, o Basecamp na versão atual não funciona (pelo menos como deveria) no Big Sur.
Os novos MACs com M1 foram lançados essa semana. Nenhum exemplar ainda foi entregue aos consumidores.
Isso quer dizer que se você tem um Mac hoje, por mais novo que ele seja, ainda utiliza processador Intel.
Nesse cenário atual em um mundo apple ainda com intel, fiz o seguinte teste: Criei uma máquina Virtual com o Big Sur instalado, conectei meus GPSs, atualizei mapas originais tanto do dispositivo como do Basecamp, instalei mapas OSM e outros projetos. Em seguida criei rotas, enviei ao GPS, fiz Backups, fiz Restores e mais uma série de testes onde aparentemente tudo funcionou como deveria, da mesma forma que funciona hoje no Catalina. (Só que não)
Mas…. Parafraseando o jornalista Cléber Machado naquela fatídica corrida da F1:
Pois é, a alegria durou pouco. Nos dias seguintes da publicação original desse texto, 3 alunos do meu curso de GPS entraram em contato dizendo que atualizaram para o Big Sur e o Basecamp tinha um comportamento fora do esperado, funcionando extremamente lento a ponto de ser impraticável sua utilização. Um desses alunos eu acompanhei de perto e fiz com ele uma ‘instalação limpa’ do Big Sur, para evitar trazer sujeira de um upgrade da versão antiga. De nada adiantou, ao instalar a versão mais recente do Basecamp, o problema persiste.
O Paulo ‘Papito’, um dos alunos que teve esse problema, encontrou em um fórum da Garmin uma solução paliativa: Executar o Basecamp alterando o modo de visualização do mapa para 3d.
Fazendo dessa forma o Basecamp responde a um bom desempenho, porém a visualização em 3d tem melhor utilização com mapas de relevos e não é tão atrativa para uso de criação de grandes roteiros no Basecamp.
Então para os usuários de Mac Intel das duas uma: Ou convivem com o problema de utilizar o Basecamp só em modo 3d até a Apple ou Garmin arrumarem uma solução, ou esperam para migrar ao Big Sur.
Esperar é sem dúvida a melhor solução. Um sistema novo recém lançado tem muitos problemas que tanto os fabricantes como desenvolvedores só vão descobrir tendo a primeira leva de usuários como cobaias. Se você for a primeira leva, será uma dessas cobaias. É natural que saia em um curso espaço de tempo um release novo do Big Sur já com muita coisa corrigida. Agora, se esse problema do Basecamp vai ser ou não corrigido logo nesse primeiro release, é outra história…
E quanto aos Mas da nova geração?
O seu próximo novo Mac vai vir com processador da Apple.
E nesse momento no novo Mac só vai funcionar o Big Sur. Apesar do Big Sur funcionar em M1 e também funcionar em Intel, a forma de trabalho é diferente. Os aplicativos desenvolvidos para Macs com processador Intel não funcionam em Macs com processador M1 e vice-versa.
Isso quer dizer que em Macs com processadores M1 o Basecamp não vai funcionar? De forma nativa não.
Só que a Apple sabe que a transição de Macs antigos para novos vai levar um tempo. Tempo esse que ela estima em dois anos.
Nesse período quem tiver um Mac com processador M1 pode fazer uso de um utilitário chamado Rosetta 2. Esse utilitário da Apple é um emulador que permite aplicações desenvolvidas para Mac Intel funcionarem em Mac M1 – a princípio esse é o caso do Basecamp, que já apresenta problemas na versão Intel com o BigSur.
Segundo a Apple a emulação com o Rosetta é um processo quase que transparente para o usuário e sem perdas significativas de performance. Tudo indica que deve funcionar bem e você poderá executar seus aplicativos que já utiliza hoje no Catalina em Mac M1 com Big Sur.
O maior problema acaba ficando para o futuro. Esses dois anos de transição da Apple não são para esperar você juntar dinheiro e trocar de Mac. Esse período é por conta dos desenvolvedores de aplicações, que precisam de tempo e investimento para reescrever e adaptar os códigos dos programas para a nova plataforma.
Certamente depois desses dois anos (quiça antes) a Apple deverá deixar de disponibilizar o Rosetta para fazer o meio de campo e futuras versões do MacOS não devem mais suportar aplicações Intel.
É mais ou menos como foi com os aplicativos de 32 bits. Antes eram totalmente suportados até versão High Sierra, depois passaram a ser suportados mas com certa limitação no Mojave, até deixarem de ser suportados por completo no Catalina. A diferença é que a mudança de arquitetura Intel para M1 é mais drástica, pois as aplicações 32 e 64 bits já coexistem a muito tempo e o bloqueio total de 32 bits veio recentemente no Catalina.
Portanto a Garmin e todos os outros fabricantes de software para sistemas Apple vão precisar dentro destes dois anos lançar novas versões dos seus aplicativos compatíveis com a arquitetura dos processadores M1.
E o que acontece se a Garmin resolver não lançar uma nova versão do Basecamp para plataforma M1? Nesse caso, o Basecamp será um aplicativo descontinuado para sistemas Apple, pois deixará de funcionar na nova arquitetura.
E os Macs atuais depois de 2 anos?
A grande maioria dos modelos de Macs Intel fabricados depois de 2013 são compatíveis com o Big Sur e você já pode atualizar o sistema diretamente pela Apple Store.
O que provavelmente vai acontecer é que muito em breve os desenvolvedores de aplicativos estarão focados em trabalhar suas novas versões para plataforma M1 ao invés de produzir conteúdos para plataforma Intel que foi descontinuada. A partir de agora surgirão muito poucos novos aplicativos ou novas versões de aplicativos para Mac Intel.
O Rosetta é uma via de mão única. Com ele você poderá executar aplicações Mac Intel em um Mac M1, só que a recíproca não é verdadeira. Segundo a Apple o seu Mac Intel não vai conseguir executar as novas aplicações para M1 e por conta dessa transição a tendência é que seu equipamento fique obsoleto em um espaço de tempo menor do que você gostaria.
Como os Mac Pros e Macbooks Pro mais potentes ainda estão sendo vendidos com processador Intel, acredito eu que a Apple deva lançar mais uma ou duas versões futuras de sistema operacional ‘TotalFlex’, ainda compatíveis com Intel e M1. Depois disso quem tiver Mac Intel estará fadado a parar naquela versão de sistema e aplicativos pré existentes.
E o futuro do Basecamp para Mac?
Sinceramente não sei dizer se a Garmin vai ou não lançar novas versões do Basecamp, desenhadas para processadores Apple.
Sequer sabemos se a Garmin vai lançar uma correção imediata para a instabilidade do Basecamp em Macs Intel com Big Sur.
O futuro do Basecamp é incerto, seja Mac ou Windows, já há vários anos, corre a lenda que a Garmin não mais atualizaria o Basecamp, descontinuando o projeto. Sabemos que isso pelo menos por enquanto isso é uma inverdade, pois o release atual do Basecamp Mac foi lançado a menos de 60 dias, ou seja, ainda tem gente na Garmin investindo tempo no Basecamp e considerando esse fato é muito provável que lancem uma correção do Basecamp muito em breve para funcionar com o Big Sur em Processadores Intel, o que de certa forma resolve seu funcionamento também em processadores Apple, utilizando com o Rosetta.
Sendo bem sincero em questão de versão, não muito se espera quanto a novidades no Basecamp. Já por muitos anos a aplicação do Basecamp permanece visualmente idêntica e o usuário mal percebe se está em uma ou na outra versão do produto. Como a aplicação é uma interface GPS x Utilizador e já faz muito tempo que o desenvolvedor não cria novos recursos, acaba sendo indiferente existir ou não novas versões. A preocupação maior é quanto a compatibilidade com computadores, a exemplo do Mac e agora a tal plataforma em M1.
O irmão mais velho do Basecamp, o Mapsource foi descontinuado em 2010 e até hoje tem muitos utilizadores fiéis que criam lá o seu roteiro, importam ao GPS e viajam com precisão.
Então, se for e independente de quando for descontinuado o Basecamp e não havendo nenhum substituto a altura, ele certamente será usado ainda por muitos e muitos anos, pelo menos no Windows.
Já no Mac, apesar de eu não acreditar que isso aconteça, o pior cenário possível é que realmente não venha uma nova versão compatível com processadores Apple e o Basecamp entre na lista de produtos descontinuados para essa plataforma.
Nesse caso, a solução vai ser migrar para o Basecamp Windows, usando de fato um PC com Windows ou ainda ‘virtualizar’ uma edição de Windows dentro de um Mac, mas isso é assunto para um outro post.
Abraços e bons roteiros!
JR
Quem tem Windows 11 não precisa de qualquer Mac OS.
Oi JR, tudo bom?
Deixa eu te fazer uma pergunta: eu atualizei para o Big Sur e estou tentando usar o Basecamp com exibição 3D (difícil, pois ainda assim o programa encerra sozinho em algumas situações). Contudo, até rotas muito simples que eu traço no Basecamp, são bagunçadas quando eu envio ao dispositivo (Nas VI), apesar de atividades, rotas e demais configurações estarem iguais no BC e no gps. Você tem experimentado esse problema? Será que o BC ficou com algum problema de transferência? Já estou ficando desanimado de tentar resolver esses bugs. Obrigado.
Evandro
Respondido por email!
Grande artigo JR, muito bem escrito, claro e esclarecedor.
Parabéns!
Bacana Roberto, obrigado!
Boa noite, João Ricardo!
Agradeço por dividir conosco a “péssima nova”…
É uma pena, fico na torcida que algo de bom aconteça nesse ínterim.
Um forte abraço!
Fala Walker, tudo bem?
Olha, a notícia não é ruim.. É só uma mudança grande e deve trazer melhorias. Promete-se muito esse novo CPU da Apple, vamos ver.
E quanto ao Baseamp, como disse, não acredito que a Garmin não vá lançar versão ao CPU Apple. Mesmo que não lance, ainda tem alguns bons anos para poder usar a versão intel em plataforma m1.
Mas é isso, temos que esperar. 🙂